segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

VÍDEO / ENTREVISTA

Entrevista do fundador da ONG Núcleo de Cultura Indígena, Aílton Krenak, para o www.producaocultural.org.br —Produção Cultural no Brasil
Esta entrevista faz parte do projeto Produção Cultural no Brasil. Alguns direitos reservados.


Aílton Krenak

Fundador da ONG Núcleo de Cultura Indígena

Íntegra da entrevista, gravada no dia 24 de junho de 2010 no estúdio Cine & Vídeo, em São Paulo (veja a entrevista em vídeo clicando em http://www.producaocultural.org.br/slider/ailton-krenak/)






Meu nome é Aílton, Aílton Krenak. Este Krenak é o nome da minha família indígena de lá do Vale do Rio Doce, Minas Gerais. Os krenaks são um grupo de aproximadamente umas 100 famílias que sempre viveram ali na região do médio Rio Doce e o meu trabalho tem sido sempre, de alguma maneira, de vincular esta cultura extremamente local de lá do médio Rio Doce com os nossos vizinhos.

A partir de uma coisa que nós temos chamada Núcleo de Cultura Indígena, que é uma iniciativa que nós começamos há 20 anos atrás - a de apropriar novas tecnologias, tipo internet, Ponto de Cultura, para algumas regiões na floresta -, nós estamos concluindo agora uma ação legal que é a de formatar junto com pessoas de diferentes culturas, de diferentes lugares da Amazônia, pegando o Mato Grosso, Rondônia, Acre, Roraima, formatar com eles espaços que vão estar localizados dentro destas aldeias, onde as pessoas locais, na sua própria língua, na sua cultura local, vão poder interagir numa rede chamada Rede Povos da Floresta. Tem desde meninada, assim, de 15 anos, 16 anos, que estão começando a pegar uma câmera, máquina fotográfica, ou estes meios digitais todos, e que já estão editando, estão começando a saber o que é uma ilha de edição. Tem oportunidade de todos juntos, numa espécie de feira de cultura, de ir mostrar a produção que essa rapaziada, esse pessoal está fazendo em 30 localidades diferentes da Amazônia.

O secretário de Cultura do Estado de Minas Gerais me chamou em julho, agosto do ano passado: "Krenak, o governo vai iniciar uma série de ações agora de promoção da cultura e tem um segmento aí que a gente quer abordar, que são as comunidades indígenas, sei lá, fazer um seminário, chamar os antropólogos...". Eu peguei e falei com ele assim: "Sei lá, este papo de seminário, chamar um antropólogo, chamar não sei o quê, isso me parece uma visão tão clínica, tipo assim: 'Ah, estou com uma dor aqui, vou no médico para perguntar o que eu tenho'". Quando você pensa no caso, digamos, que é a minha praia, que é a dos índios, o meu sentimento é que a conversa é com um por um. Os krenaks não são iguais aos xavantes, nem igual aos bandeirantes, nem igual aos ianomâmis. Eu sou krenak, mas eu não posso achar que eu sei o que é legal para os guaranis, entendeu? Pergunta para os guaranis.

Se a minha guerreira cultural tiver que reconhecer alguma capacidade local, alguma potência numa ação local, a primeira coisa que ela vai fazer é procurar saber se aquela ação local é capaz de produzir o pão de cada dia. O pão de cada dia pode ser dançar, cantar, mas, na minha percepção, na minha apropriação da palavra, a guerrilha cultural significa só que você não está enquadrado. E como você não esta enquadrado, você não tem, digamos, um programa que pode ser adaptado para política pública da cultura, você não quer subsidiar um programa de política pública de cultura, o que você quer é continuar alimentando a capacidade infinita de reinventar, de revolucionar, de virar um negócio ao avesso - que tem que ser a expressão da cultura porque senão vira acomodação.


FONTE:http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/prod-cultural/integra/integra-ailton-krenak.html

4 comentários:

hkclebicar disse...

Boa noite.

Gostaria do telefone ou e-mail do Aílton Krenak, este da reportagem.

Grato.

hk

Hanny disse...

Olá, envie ume email para mim: hannyvartuli@hotmail.com que eu encaminho para o Ailton, ok?

Hanny disse...

Ou melhor: hannyvartuli@bol.com.br

Hanny disse...
Este comentário foi removido pelo autor.